Os destaques da capa prometiam e o interior não desiludiu. A entrevista a António Osório despertou a curiosidade para um nome desconhecido, que teria dito “Não compreendo o mal. Para mim não existe.” O perfil seguro, positivo e confiante do poeta marcou esta entrevista e diferenciou-a do habitual. Os restantes conteúdos mantiveram o interesse que já esperamos, ao lado de uma mão cheia de boas sugestões de leitura, o que torna a LER uma revista muito coesa, com um nível de qualidade muito elevado. Trocando em miúdos: comprar todos os meses, porque vale a pena.
Outros destaques:
- Ler é Maçada: Pedro Mexia à volta com a borracha e a sua sucessora: a tecla delete. Pelo meio, o undo e a tremenda alegoria. Uma delícia;
- Os meus primeiros anos: excertos de José, “novela” autobiográfica agora editada, com episódios fundamentais para se conhecer melhor Rubem da Fonseca;
- Joseph Anton: uma Fatwa pode mudar a vida de alguém? Para Salman Rusdie inciou pelo nome. As memṍrias estão por aí;
- Aginter Press: novidade completa para mim, a existência de um grupo de mercenários de extrema direita sediada alguns anos em Portugal e peões de Salazar na guerra em África.
Sugestões de compra: Se Fosse Fácil Era para os Outros, de Rui Cardoso Martins; Currency Wars, de James Rickards; Ter ou não Ter – Uma Breve História da Desigualdade, de Branco Milanovic; Os Tambores da Chuva, de Jorge Skandeberg; Os Manuscritos de Aspern, de Henry James; Histórias de Londres, de Enric Gonzaléz; Até ao Fim, de Ian Kershaw.
Mea culpa, a LER de Maio não teve a atenção que merecia. O período foi agitado e a leitura foi mais rápida e menos atenta do que esta revista merece. Talvez por isso as subtilezas de Enrique Vila-Matas não me tenham atraído, suplantadas pelas peças sobre o Antonio Tabucchi. Mesmo sem a atenção devida, a LER preenche sempre muito bem aquele espaço mensal ligado aos livros de que necessito.
Principais destaques:
- Língua Movediça: candidata a aparecer por aqui todos os meses, desta vez por nos levar até algumas palavras fora de uso. Muito interessante;
- Vila-Matas: entrevista ao grande escritor catalão, que mesmo sem deslumbrar não passa sem deixar marca.
- Antonio Tabucchi: homenagem sentida, que não pode deixar de estar aqui;
- Estante Digital: uma aplicação cheia de conteúdos gratuitos de Shakespeare? Como perder?.
Sugestões de compra: O Lustre e Água Viva de Clarice Lispector; O Princípio de Todas as Coisas – Ciência e Religião, de Hans Kung.
A LER, finalmente, deu-nos um edição calma. Tenho que ser sincero: os últimos números não têm contribuído muito para a minha condição cardíaca, com os momentos de excelência e revelação que nos tem proporcionado. Em Abril manteve-se uma grande revista, mas fez uma pausa na indução de emoções com intensidade acima do aconselhável para a nossa saúde, mantendo os estímulos mais cerebrais bem activos. A peça principal foi sobre 50 nomes que levam os Portugueses a ler. É um tópico interessante, nem que seja porque nos põe a pensar um pouco no tema e nos mostra um pouco mais sobre cada um desses 50 nomes.
Outros destaques:
- Hélia Correia: a Grécia Antiga é fascinante e desperta paixões de uma forma única. Entre os contaminados há alguns felizardos que têm oportunidade de cultivar e desenvolver essa paixão. A LER falou com uma dessas pessoas. Um destaque muito bem captado foi uma frase extraordinária da entrevista, “Estiva quase a ser normal, imagine”. Mas também destacaria outra, “Sou muito feliz”. Notável;
- Portugal em campo: um dos 50 nomes que levam mais Portugueses a ler, Rogério Casanova, também quer levar alguns a escrever. O geógrafo Álvaro Domingues faz um livro sobre a ruralidade e acaba simplesmente desafiado a se reformar para “escrever o resto dos livros que queremos que ele escreva”.
Sugestões de compra: Um Piano para Cavalos Altos, de Sandro Junqueira; Contos da Infância e do Lar, dos Irmãos Grimm.
O grande destaque na capa da LER de Março foi algo que nos orgulha: Portugal foi o país convidado na Feira do Livro Infantil de Bolonha. Nesse enquadramento, 25 ilustradores nacionais estiveram presentes e cinco deles tiveram destaque especial nesta edição. Em geral, foi mais um bom número, muito coeso na qualidade dos conteúdos, com Maria Ordoñes a brilhar bem alto e ofuscar o que aconteceu à sua volta.
Como principais destaques temos:
- Língua Movediça: muletas a evitar, tendo como exemplo supremo “Como não podia deixar de ser”. Útil e muito interessante;
- Maria Ordoñes: afinal A Sibila não foi o primeiro romance de Agustina Bessa-Luís, nem O Mundo Fechado. Sob o nome de Maria Ordoñes encontraram-se dois romances iniciais da escritora. Motivo para excertos, entrevista e ensaios, num momento gigante da LER;
- Wislawa Szymborska: Desconhecida para mim, foi com grande prazer que contactei com um pouco do seu mundo. Especial destaque para um poema fortíssimo;
- Leituras Miúdas: Que há a dizer? Boas sugestões.
Além do último destaque, outras sugestões ficaram anotadas: As Guerras de Napoleão, de Charles Esdaille; A Queda de Wall Street, de Michael Lewis, uma BD mítica de Craig Thompson, “Blankets”.
A capa da edição de Fevereiro destacou a entrevista a Abel Barros Baptista e Ricardo Araújo Pereira, no entanto, quem marca esta edição é Fernando Assis Pacheco. Não conheci, não li, mas após contactar com tudo o que esta edição contém sobre ele até parece. João Pombeiro realça que conquistou os diversos cronistas da LER, ainda acrescentaria que tocou pessoalmente muitos deles. O que se conclui é que literatura e indivíduo não têm uma existência autónoma, tudo se funde numa personalidade capaz de tocar as pessoas à sua volta, pelo convívio e pela poesia. Excelente.
Nem me apetece escrever mais nada antes dos destaques, para deixar os holofotes todos no primeiro parágrafo, mas não posso deixar de referir que foi mais uma enorme edição da LER, com diversas peças excepcionais, que destacarei de seguida:
- Entrevista ABB / RAP: muito interessante termos um crítico literário e um humorista a falarem de humor todos os meses. Na entrevista mostraram que também há trabalho e reflexão nesta área, além de ficarmos a saber que “...em princípio rimos todos da mesma coisa.”. Humoristas ou não;
- Eduardo Lourenço: de repente descobrimos que o expoente dos intelectuais Portugueses também teve o seu momento de romancista. Foi objecto de conversa animada na primeira mesa do Correntes d'Escritas 2012;
- Harold Bloom: Nunca o li, mas tenho uma curiosidade latente. Ao abordar o artigo pensei poder adicionar alguma informação que incentivasse a ocupar algum do pouco e precioso tempo a ler H.B.. Rogério Casanova reconhece a influência do “Presidente do Cânone”, mostra-nos a tendência de Bloom para hierarquizar autores e termina com uma alegoria bélica em que as suas explosões são tremendas, mas duvida que tenha atingido algo tangível. É o crítico mais famoso do mundo, mas não se aproveita quase nada. Hummmmm...;
- Charles Dickens: Para se ficar mesmo a saber mais sobre um escritor incontornável;
- Agatha Christie: O que nos é revelado da autobiografia agora publicada só nos pode provocar uma coisa: inveja (pelo menos a quem não teve a mesma experiência). Infância feliz, vivia num limbo ocioso sustentado pelo dinheiro do avô e um verdadeiro lema: “não acredito que a necessidade aguce o engenho. O engenho...deriva diretamente da ociosidade, talvez da perguiça”, citação de citação. Revelador.
Recolhi 3 sugestões: O Hobbit, de J.R.R. Tolkien na Estante Digital; Biografia de Steve Jobs, por Walter Isaacson, Memórias da II Guerra Mundial, de Winston Churchill.
A LER entrou em 2012 a brilhar. As duas entrevistas e a estreia do seu novo projecto 15/25 colocam-na num plano muito elevado, mas não fica por aqui.
Nunca é demais elogiar quem proporciona oportunidades. Todos sabemos como está o país e apostas ou oportunidades não são coisas que se encontrem em cada esquina. Em termos pessoais, ainda há uma cereja em cima do bolo: perante o que o dia-a-dia nos proporciona, o tempo para leitura diminui, mas agora, mesmo restrito a um segmento, temos mais contacto com ficção e poesia. Parabéns à LER e muita força para continuar com este dinamismo.
Também as entrevistas a Manuel António Pina e Anthony Bourdain se destacam. O primeiro aspecto a realçar é o contraste entre o testemunho do poeta, num registo que apresentou momentos que apenas quem vive no seu mundo compreende na totalidade e outros bem comezinhos (termo que aparece na entrevista); e a faceta terra-a-terra e irreverente (mas com ideias bem claras) do chef-viajante-apresentador-autor. Dois belos momentos.
Como nem só de entrevistas vive a LER, outras peças se destacaram:
- Fernando Pessoa: ensaio à volta do lado místico do poeta, com previsões para 2198;
- Vassili Grossman: “apenas” um artigo sobre o lançamento de um livro, mas é impossível ficarmos indiferentes ao peso dos horrores que os totalitarismos Alemão e Soviético infligiram no Séc XX;
- Faca de Seda: Filipe Nunes Vicente apresenta o primeiro capítulo de Comes, és. Prometo seguir com atenção e entusiasmo. Com Evola como mentor (...para o futuro que há-de chegar) e porque comer é muito mais do que cozinhar;
- O Meu Pipi: mesmo não sendo seguidor do dito blog, um ensaio que identifica o anónimo autor como sendo Ricardo Araújo Pereira não deixa de ser um conteúdo diferente e muito interessante. Alguém sabe o que significa esteatopigia? Pois digo-vos que é uma das “provas”;
- Zona Franca: Não é a primeira vez que esta secção se destaca. Desta vez, entre uma comparação do Euro com a viagem do Titanic e a faceta dos negócios que faz lembrar Darth Vader, fica o alerta que é em tempos de crise que se muda de vida;
- Sem Receita: estimados críticos literários, por favor inspirem-se nesta crónica de Inês Pedrosa. Estas força, intensidade e paixão estimulam, sem dúvida, qualquer um a ler. Um crónica não é uma crítica literária e Clarice Lispector só existe uma – a obra mantém-na entre nós - bem sei, mas há sempre alguma margem de manobra. Além disso, até numa análise “técnica” a leitura tem muito de emocional.
5 livros ficaram anotadas para uma ou outra oferta cirúrgica: Canções Mexicanas, de Gonçalo M. Tavares; Contos Completos, de Gabriel García Márquez; O Meu Pipi - Sermões, diz Bruno Vieira Amaral que é de Ricardo Araújo Pereira; Cityboy, de Geraint Anderson e Mudar de Vida, de Dalila Pinto de Almeida.
Todos os meses alimento a minha ilusão de ligação à literatura com mais uma edição da LER. Tenho que ser realista, reduz-se a mera ilusão quando os livros lidos em 2011 não devem ultrapassar o número de dedos de uma mão. Mas, ao mesmo tempo, ajuda a diluir a frustração pela miserável ínfima parte do meu tempo dedicada aos livros. Bom, reflexões não resolvem nada se não originarem acção, logo há que dedicar tempo a leituras e não a lamúrias. O mês de Novembro, no entanto, reforçou o sentimento de ligação ao mundo dos livros, face ao evento que marca a edição e que é, de facto, notável e inesquecível: o encontro e a conversa entre George Steiner e António Lobo Antunes. A entrevista a Steiner, na simbólica edição nº 100 de Março, impressionou-me pela profundidade das reflexões do intelectual residente em Cambridge e acompanhar, agora, o encontro por ela motivado é fantástico. Se mais fosse necessário, os próprios demonstram na própria conversa quão especial, único e memorável foi esse encontro. Não sou conhecedor das respectivas obras, mas o simples respeito pelas figuras não nos deixa indiferentes a esta vitória que a LER conseguiu e pela qual está de parabéns.
Embora nesta edição exista um componente que deixa os restantes ofuscados, não posso deixar de sublinhar a entrevista a João Magueijo. A peça da LER sobre o seu livro despertou-me curiosidade, pelo que conhecer um pouco mais o autor, deparar com a sua visão da ciência e de como é encarada e a sua visão alargada da vida foi uma sequela muito apropriada.
No global, acabámos por ter nas mão uma edição um pouco mais desequilibrada, face a momentos altíssimos alternados com médios/alto. Claro que outras peças se destacaram, como passo a identificar:
- Tomas Transtormer: visto que o Nobel 2011 era um perfeito desconhecido, gostei de saber um pouco mais sobre ele;
- Estante Digital: não sei se me distraí nos números anteriores, mas fiquei com a impressão de ser uma estreia. O digital e o acordo ortográfico são inevitabilidades, assim, esta rubrica tem tanto de pertinente quanto de interessante;
- Almoço: com aquele orgulho e autoridade de lá ter estado, gostei da forma exemplar como a reportagem foca todos os pontos de mais um agradável evento.
Para a lista de sugestões de compra saltaram 4: O Adúltero Americano, de Jed Mercurio, Uma Estratégia para Portugal, de Henrique Neto; O Estado do Egito, de Alaa Al Aswany e Senhor Feliz, de Roger Hargreaves. O de Henrique Neto já está comprado e destinado à gestora da família.
Gosto de entrevistas a autores. Perceber como convivem com a escrita, uma relação que parece única em cada cobaia que passa pela revista LER. A entrevista a Dulce Maria Cardoso não foge à regra, enriquecida com momentos de partilha da sua experiência de vida, inevitavelmente ligados ao processo criativo.
Gosto de entrevistas, mas não só. Neste período entre a reentré e o Natal, não faltam novidades editoriais para nos tentar. Outros destaques:
- Restaurante Book: Um dia ainda passo por lá, artigo convidativo;
- Padre António Vieira: não quero passar por algo que não sou, mas gostei imenso e é um histórico que me desperta imensa curiosidade e respeito;
- Camões: por ser Camões, por gostar d'Os Lusíadas e com o bónus de um ensaio de Eduardo Lourenço. É preciso mais?;
- Lundas: não há palavras para esta realidade, mas uma coisa é fácil de constatar: nunca deixa de ser perturbador;
- Parlamento: Rogério Casanova no Parlamento só poderia dar em destaque.
A época é favorável a listas de compras e esta edição não deixou de acrescentar: Ferrugem Americana, de Philipp Meyer; Comissão das Lágrimas, de António Lobo Antunes; O Retorno, de Dulce Maria Cardoso; Obliquidade, de John Kay, De Gaulle, de Éric Roussel e O Som das Lengalengas, de Luísa Ducla Soares e João Vaz de Carvalho.