O almoço seria coelho panado, o que convidava a escolher um tinto. Estamos perante uma carne com sabor pouco forte, pouco marcado, portanto, tanto poderia pensar num tinto mais poderoso como noutro mais suave. O Crasto 2010 estava há 2/3 anos na cave para polir um pouco, suavizar a acidez e os taninos. Não sendo um vinho de guarda longa, decidi abrir. A cor mostrou um rubi perfeito, bem definido; no nariz encontrei o perfil frutado e floral característico do Douro, numa versão mais madura, mas ainda limpa. Na boca, corpo médio, taninos finos, bem envolvidos, toque de frescura, mas com a acidez já domada. Bom final, agradável, persistente. Ainda poderia ter ficado mais um ano ou dois para o ponto ótimo, mas estava num belo momento e deu muito prazer. Gostei bastante, foi boa opção esperar uns tempos. Para o meu gosto, claro.
A harmonização foi a esperada, boa ligação, sem sobreposições. No entanto, mesmo com o tempo de descanso, a acidez ainda ficava em destaque no final. Nada que comprometesse o sucesso. Foi mais uma refeição muito agradável em família.
Em 2012, tive oportunidade de beber dois vinhos varietais de arinto com origem em Bucelas e fementação e estágio em madeira: Quinta do Boição Reserva 2010 e Morgado Sta. Catherina Reserva 2010 – não tenho fichas técnicas, portanto, não posso detalhar eventuais diferenças de vinificação. Gostei muito de ambos os vinhos e a casta mostrou-se muito bem nestas versões; claro que o trabalho das equipas de viticultura e enologia teve papel fundamental. A frescura mantém-se bem elevada, no entanto, a textura é suave, o que torna o vinho mais sedoso e agradável na boca, bem como parece suavizar o final. Ainda encontrei um quiosque com um Quinta do Boição Reserva (saiu com a RV há uns meses), que irá descansar uns 2/3 anos, altura em que espero poder avaliar 2 expectativas: bouquet (os aromas pareciam em fase de ligação) e textura (reforçar a cremosidade).
Pelos escritos que li sobre a matéria, as castas brancas nacionais com longevidade mais reconhecida são alvarinho e encruzado, no entanto, a acidez da casta arinto faz-me apostar (embora 3 anos não sejam nada...). De notar que, para os lados da Bairrada, a família Pato está a lançar a Bical como casta resistente à passagem do tempo. Por enquanto, o melhor é saborear a frescura das casta branca mais transversal do país; quanto ao resto, esperar...
Nos últimos meses, a sensação de que se bebem alguns vinhos tintos muito cedo tem vindo a ganhar peso na minha vivência desta extraordinária bebida. Começou com alguns de gabarito que despertaram a simples pergunta: como evoluirá?; entretanto, aparece informação sobre a relação entre longevidade, acidez e estrutura, que acrescentou um novo ângulo na degustação.
Um apreciador certamente valoriza provar um vinho no auge, mas quem sabe o que isso é? Será que todos o consideram o auge, sendo o prazer da degustação algo tão subjectivo? Existe um auge técnico? Eu não sei, só tenho dúvidas. Nesta primeira experiência, juntei um grupo de vinhos que, parece-me, podem melhorar com a passagem do tempo e procuro 3 coisas nos tintos: desenvolver o bouquet, arredondar os taninos, suavizar a acidez. Não tenho a certeza que a guarda o faça, mas logo veremos quando chegar a hora... Também estão lá alguns alvarinhos, casta de reconhecida longevidade potencial.
Não são de vinhos de topo, mas maioritariamente de guarda média, pelo que a partir de 2014 algumas rolhas vão saltar. Espero que o sossego e os 21º dos arrumos contribuam de forma positiva.