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Nos mercados financeiros sucedem-se as boas notícias no que diz respeito a Portugal. O PSI 20 fechou o ano positivo, as cotações das acções da banca sobem consistentemente e as taxas de juro implícitas da dívida longo prazo no mercado secundário encontram-se abaixo de 7% (valor de referência que originou pedido resgate).
Estes factos podem originar duas consequências positivas. Por um lado, a diminuição das taxas de juro exigidas a Portugal pode permitir o regresso aos mercados. Isto é positivo, porque é reposta a independência face à Troika e a nossa autonomia no rumo a dar ao país. Por outro lado, a subida consistente da bolsa pode indicar uma recuperação da economia, já que se acredita que os mercados antecipam a economia real.
Se os nossos desejos se concretizarem e a autonomia financeira for reposta no curto prazo, uma conclusão, tão dolorosa quanto previsível, se impõe: foi de novo a classe média, com maior incidência nos funcionários públicos e trabalhadores por conta de outrém em geral (os do recibo...), que pagou a crise. As grandes intenções reformistas ficaram-se por cortes cegos e desesperados nas despesas, sem passar para a opinião pública um pensamento, uma reflexão sobre o modelo de funcionamento que se seguiria. A coligação que nos governa aproveitou, também, para avançar com a sua agenda ideológica, de cariz liberal, com penalizações particularmente graves no serviço público de cuidados de saúde.
Por enquanto, resta-nos reunir forças para enfrentar um 2013 que se adivinha dramático para muitas empresas, mas principalmente muitas famílias; manter a consciência de que os sinais positivos que começam a aparecer não terão efeito rápido no nosso dia-a-dia; mas não os ignorar e procurar que sejam a motivação para resistir e acreditar numa melhoria.
No dia 20/11/2012, os leitores do Jornal de Negócios online decidiram que o analista Ulisses Pereira analisaria o PSI 20. Podem ver o vídeo aqui.
O analista manteve uma posição optimista para o nosso índice, opinião que mantém desde Maio 2012. Ressalvou, no entanto, que o PSI abaixo dos 5100 pontos faria alterar a sua opinião. Adicionalmente, informou que, à data, a variação anual era negativa em 5%, o que em bolsa “não é nada”, ou seja, altera-se muito facilmente.
Repetiu uma ideia muito divulgada de que os mercado antecipam a economia. Assim, caso a nossa bolsa mantenha, até ao final do ano, esta performance, faz a arriscada previsão de que em 2013 a recessão pode atingir valores menos gravosos do que o previsto.
É claro que há muita incerteza nesta opinião, mas é bom ouvir posições mais optimistas. De salientar que vem de uma pessoa respeitada e com mais de 20 anos de experiência nos mercados financeiros, portanto, não deve ser menosprezada.
Em termos de mera observação, há dois factos curiosos a sublinhar:
- as cotações dos bancos nacionais registaram fortes subidas desde Setembro (claro que podem sempre descer, mas nos últimos anos só desciam...);
- na semana passada, as negociações de novo pacote de ajuda à Grécia foram muito complicadas e nos mercados praticamente não houve impacto negativo.
Não tenho conhecimentos nem informações que suportem ou desmintam a análise, mas merece a nossa reflexão. Tal como se justifica acompanhar o PSI, já que, quem sabe, podemos estar num ponto de viragem.
Nesta semana tivemos acontecimentos contraditórios. Na área política, a aprovação de um orçamento castrador e recessivo é apenas a conclusão que já se esperava. Mais profundo é o movimento de refundação das funções do Estado. A área mais à direita prova, semana após semana, que os seus objectivos não se ficam pela resolução desta crise. Tem, claramente, uma agenda política de carácter liberal que está a ser implementada (ou está a tentar...). Assim, assistimos ao desafio para o PS negociar esta temática e à chegada de técnicos do FMI e do Banco Mundial para desenvolvimento do respectivo dossier.
Nem só de política se viveu e há um facto com uma carga simbólica muito grande: o BES teve sucesso no regresso aos mercados, com emissão de dívida de longo prazo não garantida pelo Estado. É um primeiro passo do nosso sistema financeiro. Este regresso é fundamental para recuperarmos autonomia face à Troika e podermos voltar a gerir o nosso destino (para o bem e para o mal). Na bolsa, a sangria das cotações dos principais bancos nacionais parece estagnada, façamos votos que a confiança esteja a encontrar algum caminho.
Mas não tenhamos ilusões, o caminho parece ainda muito longo e até algumas melhorias chegarem ao bolso da população em geral ainda há muitos sacrifícios para suportar.
Há uma diversidade notável nas mensagens que recebemos no nosso mail. Esta semana recebi, de novo, uma citação atribuída à filósofa de origem Russa Ayn Rand:
"quando se perceber que, para produzir precisa de uma autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negoceia não com bens mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e pela influencia mais que pelo trabalho, e que as leis não os condenam mas os protegem; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto sacrifício; então poderá afirmar, sem receio de errar, que a sociedade está condenada"
Esta reflexão tem um aspecto curioso. Em conjunturas económicas mais prósperas há tendência para encolher os ombros e despachá-la como mais um lirismo. Quando passamos por uma crise como a actual ganha novos contornos, porque precisamos de PIB e não temos. Percebemos que gerir países com base em dívida pode ser inevitável, mas, quando o endividamento não origina PIB sustentável, leva a crises cíclicas graves.
Dado termos indicadores em % do PIB, vemos que estamos à porta de um ciclo vicioso de austeridade que origina recessão que exige mais austeridade que aprofunda a recessão...
Enfim... Gostaria de pensar que vamos aprender com esta crise, mas já é a terceira presença do FMI por cá, pelo que não estou muito optimista neste aspecto.
Está mais que demonstrado que a receita da troika para resolver a crise das dívidas soberanas está a empobrecer países; a criar instabilidade social, económica e política; bem como a encaminhar-nos para o fim da moeda única. O resgate a Espanha aproxima-se a passos largos, a Grécia está afundada num pântano e Portugal está à deriva.
O nosso país, neste momento, está às portas de uma crise política, com o Governo cheio de fissuras, a coligação moribunda e os partidos do governo divididos (mais o PSD, já que o CDS está mais unido contra muitas medidas do Governo). Não se vê a luz ao fundo do túnel, só austeridade, austeridade, austeridade... Um coro de vozes experientes alerta para todos os perigos deste caminho. Quando Mário Soares exorta Paulo Portas a sair do Governo é chamado de senil e, no entanto, os media dizem-nos que o CDS esteve a discutir esse cenário, certamente face às prepotência e rigidez do parceiro de coligação.
E alternativas? Há argumentos que podem parecer básicos e populistas, mas, no final do dia, a verdade é que temos muitos especialistas pagos a peso de ouro e chegou a hora de demonstrarem que esse ouro é um investimento na melhoria das condições de vida das populações. A nível nacional e Europeu. Já só apelo aos técnicos, porque aos políticos...