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A edição de Fevereiro da LER contém uma entrevista conjunta a Abel Barros Baptista e Ricardo Araújo Pereira. Despertar memórias associadas aos intervenientes era inevitável e associados a RAP não faltam momentos marcantes. Este é um dos meus favoritos.
As Correntes são sempre um momento importante do meu ano. Reservo uns dias de férias, sempre que posso, para as acompanhar e é um evento em que o contacto permanente com reflexões e ideias nos estimula, eleva e proporciona uma libertação temporária da rotina do dia-a-dia (aproveitando os conceitos da segunda mesa – O fim da arte superior é libertar – citação de Fernando Pessoa).
Esta edição não fugiu à regra, com uma particularidade. Os desafios propostos aos participantes continham referências claras a tópicos económicos, área da minha formação académica, pelo que estive na situação desconfortável de ouvir escritores falarem sobre algo que conheço um pouco melhor. Talvez por isso, esse aspecto do evento tenha um balanço de relativa desilusão. Não esperando erudição sobre o tema por parte dos oradores, não deixou de ser incómodo que a palavra mais dita tenha sido economistas, classe que, como um todo, tem muito pouco que ver com a origem da situação em que estamos (políticos ou especuladores seriam mais adequadas). Posso colocar a hipótese de se pretender referir aos teóricos da economia, que também estão em dificuldades na gestão da situação. Mas isso é comum a muitas e muitas áreas; por ex, ainda não temos vacina para o HIV. Não se sabe tudo e a evolução da sociedade coloca-nos perante situações novas a todo o momento. Mas mesmo este ponto de vista não é completamente correcto, já que não faltaram vozes, ao longo dos últimos anos, a alertar para o excesso de endividamento nacional. A minha desilusão neste ponto foi o assumir da problemática económica como algo ininteligível e quase repulsivo, e assim sendo, talvez não merecedora de se investir algum tempo na recolha de informação para as intervenções. Pelo contrário, o afastamento parecia patológico e por vezes quase vangloriado. Tudo isto originou alguns juízos de valor pouco sustentados, que não contribuíram com nada positivo para a classe dos... autores/escritores. Não vamos tomar o todo pela parte e esquecer que estamos a falar de meia-dúzia de intervenções em quase quarenta e não referir Inês Pedrosa como alguém que se aproximou mais da realidade ao referir-se aos especuladores.
Mas é claro que isto não foi tudo e, na vertente da reflexão, manteve-se a qualidade global do evento. O dia de abertura terá sido o mais elevado, com D. Manuel Clemente, Bispo do Porto, a mostrar umas lucidez, informação, estrutura intelectual e capacidade de comunicação notáveis, logo seguido de uma grande mesa com participação de Eduardo Lourenço e Rubem Fonseca, entre outros. Outros oradores que ficaram na memória foram Fernando Pinto Amaral (capacidade de comunicação e estrutura intelectual), Inês Pedrosa (visão mais pragmática), Rui Zink (humor com profundidade), Eugénio Lisboa (densidade assinalável), João de Melo (orignal, muito terra-a-terra) e Onésimo Teotónio de Almeida (humor fino e a brincar com as palavras e seus significados).
Todas as mesas a que assisti apresentaram lotação esgotada, pelo que, em definitivo, as Correntes já alargaram o seu alcance bem além dos autores e amantes da leitura. Um sucesso de adesão notável para um evento de carácter cultural. Sinceros parabéns a toda a organização.
Vinho | Quinta da Alorna Reserva |
Tipo / Ano | Tinto 2009 |
Castas | Touriga Nacional, Cabernet Sauvignon |
Região | Regional Tejo |
Produtor | Quinta da Alorna |
Aspecto | Violáceo fechado |
Nariz | Floral, fruta preta |
Boca | Bom corpo, taninos polidos, boa acidez. Amplo, espalha fruta de forma generosa pelo palato, sempre com o floral a conferir um toque mais guloso. Intenso, redondo e muito suave, termina persistente e elegante |
Nota | 16 |
Data Prova | Fevereiro 2012 |
Preço | €4,99, Pingo Doce |
A Quinta da Alorna é mais um produtor que me conquistou. Os seus 4 principais vinhos (brancos e tintos, entrada gama e reserva) apresentam boa qualidade para o respectivo segmento e um preço bem aceitável. Este tinto reserva 2009 está com um perfil mais duriense do que os 2007 e 2008 - no entanto, a prova pode ter ocorrido com menos tempo de garrafa - mais encorpado e floral. É um vinho muito bom que nos seduz pelas suavidade e ligeira doçura. Gostei muito e pelo corpo, intensidade e persistência, aliados à acidez, atinge o muito bom. Assim, a relação preço / qualidade é muito boa e torna-o numa compra a recomendar.
Vinho | Campolargo Rosé |
Tipo / Ano | Espumante 2009 |
Castas | Pinot Noir |
Região | Bairrada |
Produtor | Manuel Santos Campolargo |
Aspecto | Rosado |
Nariz | Frutos vermelhos (cereja), vegetal |
Boca | Tem o tipo de presença de boca que mais me agrada: viva, pujante e com volume. Além disso, tem boa mousse e uma acidez vibrante, pronta para grandes desafios gastronómicos. Alguma complexidade nos sabores, com a cereja sempre como protagonista. Final bem persistente, fresco e descaradamente seco, ainda deixa alguma “agulha” a estalar na língua de recordação. |
Nota | 16,5 |
Data Prova | Fevereiro 2012 |
Preço | €11,90, Garrafeira Tio Pepe |
Gostei muito deste espumante. Com uma frescura impressionante e uma amplitude que enche a boca, saboroso e bem seco, podemos contar com ele para entradas ou pratos principais. Muito bem feito, versátil e, diria, consensual, vale todos os cêntimos. Recomendo. Esteve muito bem no jantar de 14 Fevereiro, em que acompanhou um esparguete negro com gambas.
De novo culpa do VH1 que nos dá uns segundos do refrão, mas quem ouve a música e não se lembra de Zeppelin, Stones, Guns'n'Roses Lies ou Lenny Kravitz (Mamma Said)?
Vinho | Casa de Cambres Reserva |
Tipo / Ano | Tinto 2009 |
Castas | Touriga Nacional (20%), Tinta Roriz (40%), Touriga Franca (40%) |
Região | Douro |
Produtor | Casa de Cambres |
Aspecto | Rubi bonito e brilhante, bordo violáceo |
Nariz | Frutos vermelhos, floral, nuances especiarias e chocolate |
Boca | Corpo médio, taninos polidos, boa acidez. Jovem, alegre, fresco, equilibrado e suave, transporta o que anunciou no nariz de forma muito agradável e saborosa. Final persistente e suave, onde a esteva se mostra mais, dando um toque guloso a chocolate |
Nota | 15,5 |
Data Prova | Fevereiro 2012 |
Preço | PVP €5,50 |
Uma boa surpresa. Um vinho muito bem feito, onde boas uvas foram bem tratadas para mostrarem as suas características, brindado com estágio de 6 meses em barricas de carvalho francês, o que culminou num produto final pronto para se beber com prazer. Leve, saboroso e muito agradável, tem óptima bebida, difícil de parar. Apresenta todos os quesitos para ter sucesso: amigável, consensual, suave e boa relação qualidade / preço. Recomendo vivamente, gostei.
A minha preferida do livro: "A pouco e pouco as palvras isolam-se dos objectos que designam, depois das palavras só se desprendem sons, e dos sons restam só os murmúrios, o derradeiro estágio antes do apagamento." Lídia Jorge, A Costa dos Murmúrios.
Vinho | Versus |
Tipo / Ano | Tinto 2007 |
Castas | Touriga Nacional, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Franca |
Região | Beira Interior |
Produtor | Vinhos Andrade de Almeida |
Aspecto | Rubi fechado |
Nariz | Intenso, frutos vermelhos maduros, floral, mineral |
Boca | Encorpado, taninos finos, boa acidez. O seu corpo bem constituído confere volume e amplitude ao vinho, que mantém a tónica na fruta e no mineral, num registo fresco, seco e equilibrado. Final intenso, com boa persistência, saboroso e vincado |
Nota | 16 |
Data Prova | Fevereiro 2012 |
Preço | €6,40, Garrafeira das Artes |
Este vinho tem origem em 25 ha de vinhas em regime de produção biológica, localizadas em Vermiosa, concelho e sub-região Figueira Castelo Rodrigo, no Parque Natural do Douro Internacional, mas região Beira Interior. Estamos perante um vinho opulento, másculo, não está para brincadeiras, mas não tem nada de rústico, e pede pratos mais fortes como companhia. Pelos seus corpo e intensidade, aliados a suavidade e equilíbrio, atinge o muito bom. Bebida muito agradável, bom cartão de visita para a região e relação preço / qualidade equilibrada. Gostei, acompanhou uns bifes grelhados.
A culpa é do VH1, que num separador me leva a viajar no tempo.
"O problema é que em tempos me apaixonei por um rapaz inquieto à procura duma harmonia matemática, e hoje estou esperando por um homem que degola gente e espeta num pau." Lídia Jorge, Costa dos Murmúrios
Vinho | Duque de Viseu |
Tipo / Ano | Branco 2008 |
Castas | Encruzado, Malvasia Fina, Bical |
Região | Dão |
Produtor | Sogrape Vinhos – Quinta Carvalhais |
Aspecto | Amarelo dourado claro |
Nariz | Sinais de evolução, mineral, fruta branca |
Boca | Bom corpo, boa acidez. Ainda bem fresco na boca, sentimos o corpo quase cremoso e os sabores mais intensos de um branco com evolução. Mineral e fruta branca são o prato forte até ao final seco e fresco. |
Nota | 16 |
Data Prova | Fevereiro 2012 |
Preço | Na casa dos €4,00, Pingo Doce |
Convidados em casa e o jantar seria folhado de frango. A minha vontade era, dentro de preço acessível, um branco complexo ou com estágio em madeira não muito marcado (Cabriz Encruzado ou Castello d'Alba Reserva por exemplo). A maior dificuldade veio da necessidade de fazer compras me levar ao Pingo Doce, portanto lá me vi na garrafeira do hiper. Era um desafio encontrar um vinho que preenchesse os requesitos e estava difícil até chegar ao Dão.Aquela garrafa única, no meio da colheita de 2010, parecia estar à minha espera. Claro que, no primeiro momento, quando vi 2008 na garrafa lá veio a maldita hesitação da idade, mas não durou muito. Bastou lembrar como estava bom o de 2009 para a hesitação se transformar numa curiosidade entusiástica sobre o estado deste 2008 e como se desenvolveriam os aromas terciários do vinho. É verdade que as colheitas não são todas iguais, mas tinha motivos para esperar um boa prova. E o facto é que o Duque demonstrou boa forma. O corpo suavizado pelo estágio em garrafa estava quase cremoso e os seus aromas e sabores, com intensidade reforçada, continuavam muito bem amparados por uma boa acidez.
Resumindo: suave, fresco e saboroso, continua a mostrar sinais de qualidade e a ser uma das minhas preferências no segmento. O Duque de Viseu branco foi aprovado em 3 colheitas: 2008, 2009 e 2010. Boa relação q/p, boa compra.
No passado dia 09 de Fevereiro, a Campolargo apresentou alguns dos seus vinhos na Garrafeira Tio Pepe. Consegui passar por lá e que bom final de tarde nos proporcionou.
As recepção e condução da prova estiveram a cargo do Sr. Carlos Campolargo, que assumiu essa responsabilidade com simpatia, atenção e paciência para ouvir os curiosos que por lá passaram. Em prova encontravam-se os Diga? branco 09 e tinto 08, Rol de Coisas Antigas 08, Calda Bordaleza 07, Termeão Pássaro Vermelho 07, Vinha da Costa 06 e o espumante rosé bruto Pinot Noir. Ainda houve duas surpresas: um bical 2004, cortesia da Garrafeira Tio Pepe, e o Campolargo CC 2008 (se não me falha a memória).
Não era altura para notas de prova, mas para conversa descontraída e ouvir o produtor, cuja presença é sempre uma fonte de informação privilegiada sobre o que estamos a beber. Em termos gerais, os vinhos apresentaram algumas características transversais: castas estrangeiras, boa estrutura, óptima acidez e elegância. Pessoalmente, os preferidos foram o Diga? branco, pelo perfil original e uma relação qualidade / preço interessante, o Campolargo CC por atingir a excelência e um espumante muito bom, de qualidade indiscutível e a valer todos os cêntimos (na Tio Pepe €11,90 – acabei por trazer uma). Os restantes tintos mostraram-se todos muito bons.
No final, só poderíamos dar os parabéns à Campolargo pelos vinhos, todos de grande qualidade e aptos para proporcionar momentos de grande prazer na desgustação. A Bairrada tem belos vinhos para quem tiver abertura para ultrapassar preconceitos.
Prova em vésperas da Garrafeira ser considerada a do ano pela Revista de Vinhos, pelo que os respectivos parabéns aqui ficam.
Vinho | Gaivosa Primeiros Anos |
Tipo / Ano | Tinto 2009 |
Castas | Tinta Amarela, Sousão, Touriga Nacional |
Região | Douro |
Produtor | Alves de Sousa |
Aspecto | Violáceo intenso |
Nariz | Intenso, frutado, floral, algum mineral |
Boca | Bom corpo, boa acidez, taninos redondos. O seu corpo bem constituído sobressai na prova, bem secundado pelo sabor. Tem amplitude e frescura agradável para tinto, que mantém o equilíbrio no limite, bem como um registo mais doce do que seco. No final, os 14,5% de álcool mostram-se demais, prejudicando a apreciação. |
Nota | 15,5 |
Data Prova | Janeiro 2012 |
Preço | €6,00 com a Revista Vinhos |
Prova RV | Do produtor duriense Alves de Sousa e com a chancela da Quinta da Gaivosa, este é um vinho feito com Tinta Amarela e Touriga Nacional, plantadas a 450 metros de altitude. Tem uma muito agradável nota vegetal no aroma, acompanhada de sugestões de amoras e ameixas maduras. Sério e austero na boca, sem deixar de ser elegante, com taninos sólidos e apontamentos vegetais a conjugarem-se com a boa acidez para dar garra e persistência ao final |
Esta prova deixou um sentimento final de semi-frustração. Um vinho bem feito, com qualidade óbvia, mas que, mesmo no final, apresenta uma causticidade com impacto na prova. Fica a interrogação sobre o que o tempo poderá fazer quanto a este aspecto. Felizmente, bebi-o com um coelho à caçador, a harmonização funcionou muito bem, gostei e 2 convivas não deixaram nada para provar na próxima refeição, mas aquela sensação de se não fosse...
O respeito imenso que esta versão transporta é notável:
A LER entrou em 2012 a brilhar. As duas entrevistas e a estreia do seu novo projecto 15/25 colocam-na num plano muito elevado, mas não fica por aqui.
Nunca é demais elogiar quem proporciona oportunidades. Todos sabemos como está o país e apostas ou oportunidades não são coisas que se encontrem em cada esquina. Em termos pessoais, ainda há uma cereja em cima do bolo: perante o que o dia-a-dia nos proporciona, o tempo para leitura diminui, mas agora, mesmo restrito a um segmento, temos mais contacto com ficção e poesia. Parabéns à LER e muita força para continuar com este dinamismo.
Também as entrevistas a Manuel António Pina e Anthony Bourdain se destacam. O primeiro aspecto a realçar é o contraste entre o testemunho do poeta, num registo que apresentou momentos que apenas quem vive no seu mundo compreende na totalidade e outros bem comezinhos (termo que aparece na entrevista); e a faceta terra-a-terra e irreverente (mas com ideias bem claras) do chef-viajante-apresentador-autor. Dois belos momentos.
Como nem só de entrevistas vive a LER, outras peças se destacaram:
- Fernando Pessoa: ensaio à volta do lado místico do poeta, com previsões para 2198;
- Vassili Grossman: “apenas” um artigo sobre o lançamento de um livro, mas é impossível ficarmos indiferentes ao peso dos horrores que os totalitarismos Alemão e Soviético infligiram no Séc XX;
- Faca de Seda: Filipe Nunes Vicente apresenta o primeiro capítulo de Comes, és. Prometo seguir com atenção e entusiasmo. Com Evola como mentor (...para o futuro que há-de chegar) e porque comer é muito mais do que cozinhar;
- O Meu Pipi: mesmo não sendo seguidor do dito blog, um ensaio que identifica o anónimo autor como sendo Ricardo Araújo Pereira não deixa de ser um conteúdo diferente e muito interessante. Alguém sabe o que significa esteatopigia? Pois digo-vos que é uma das “provas”;
- Zona Franca: Não é a primeira vez que esta secção se destaca. Desta vez, entre uma comparação do Euro com a viagem do Titanic e a faceta dos negócios que faz lembrar Darth Vader, fica o alerta que é em tempos de crise que se muda de vida;
- Sem Receita: estimados críticos literários, por favor inspirem-se nesta crónica de Inês Pedrosa. Estas força, intensidade e paixão estimulam, sem dúvida, qualquer um a ler. Um crónica não é uma crítica literária e Clarice Lispector só existe uma – a obra mantém-na entre nós - bem sei, mas há sempre alguma margem de manobra. Além disso, até numa análise “técnica” a leitura tem muito de emocional.
5 livros ficaram anotadas para uma ou outra oferta cirúrgica: Canções Mexicanas, de Gonçalo M. Tavares; Contos Completos, de Gabriel García Márquez; O Meu Pipi - Sermões, diz Bruno Vieira Amaral que é de Ricardo Araújo Pereira; Cityboy, de Geraint Anderson e Mudar de Vida, de Dalila Pinto de Almeida.